Inédita nesta edição, mostra conta com nove filmes, sendo três longas e seis curtas-metragens
A Mostra de Cinema Indígena e Povos Tradicionais é uma das novidades da 25º edição do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica). A mostra, que é competitiva, tem o objetivo de fortalecer a produção audiovisual feita por pessoas que fazem parte das comunidades e territórios, e tem a artista visual, cineasta, escritora, antropóloga e pesquisadora baiana Glicéria Tupinambá, conhecida como Célia Tupinambá, como curadora.
O Fica acontece na Cidade de Goiás entre os dias 11 e 16 de junho e é uma realização do Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Cultura (Secult), em correalização com a Universidade Federal de Goiás (UFG), por meio da Fundação Rádio e Televisão Educativa (RTVE).
Foram selecionados para esta mostra nove filmes, sendo três longas e seis curtas-metragens. O diretor de programação do festival, Pedro Novaes, explica que, apesar de as edições anteriores do Fica terem tido filmes indígenas na mostra principal, esse ano a criação de uma mostra específica é pautada pela necessidade de ampliar a visibilidade e o reconhecimento das produções indígenas e de comunidades tradicionais, como os quilombolas e ciganos.
“Existe uma produção muito grande de filmes feitos sobre as comunidades, mas buscamos especialmente os que são feitos por pessoas que fazem parte dessas comunidades. O audiovisual se tornou uma ferramenta importante para essas comunidades na luta por direitos, pelos territórios, e a gente achou que era o momento de criar um espaço que pudesse dar a relevância que essa produção merece”, avalia Novaes.
As obras da Mostra de Cinema Indígena e Povos Tradicionais passaram pela avaliação e curadoria de Célia Tupinambá, integrante da comissão de seleção e indígena da Terra Tupinambá de Olivença, no sul do estado da Bahia. Para ela, o trabalho do audiovisual potencializa as lutas, sensibiliza e mostra que existe outra dinâmica e outro olhar sobre essas comunidades.
“O audiovisual chega rápido, chega nos espaços e promove a desconstrução do pensamento colonial, e descolonizar muitas das vivências das vidas das pessoas é necessário. O festival tem uma ampla abrangência sobre todas as demandas que são pautadas pelas sociedades minoritárias e a minha participação traz um olhar de comunidade, de luta, de resistência, de mostrar um pouco”, detalha Célia.
Glicéria Tupinambá
Glicéria Tupinambá, também conhecida como Célia Tupinambá, é artista visual, cineasta, professora e atualmente cursa mestrado em Antropologia Social no Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Ela é da aldeia Serra do Padeiro, localizada na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no sul do estado da Bahia,e participa intensamente da vida política e religiosa de seu povo.
Representante dos Tupinambás junto à Organização das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres (ONU Mulheres), Célia também foi protagonista da retomada da confecção dos mantos Tupinambá, objetos rituais que foram levados do Brasil para a Europa no período colonial. Ela aprendeu a confeccionar o artefato em 2006 e tornou-se a primeira mulher a construí-lo em mais de 400 anos.
Célia também encabeçou as negociações para repatriar ao Brasil, em 2024, o manto Tupinambá que se encontra atualmente no Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague. Este ano também representou o Brasil na 60ª Bienal de Veneza com a exposição Ka’a Pûera: nós somos pássaros que andam.
Em 2021, Célia foi curadora da exposição “Kwá yapé turusú yuriri assojaba tupinambá | Essa é a grande volta do manto tupinambá”, na Funarte Brasília. Recentemente, foi vencedora da 10ª edição da Bolsa de Fotografia ZUM/IMS com o projeto “Nós somos pássaros que andam”. Realizou, em 2015, o documentário “Voz das Mulheres Indígenas”, que reúne depoimentos de mulheres indígenas na Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas.
Evento multicultural
O Fica 2024 conta com uma vasta programação gratuita, com mostras competitivas, debates com grandes nomes do cinema nacional e internacional, atividades de cunho ambiental e atrações culturais.
O festival conta com apoio do programa Goiás Social; das secretarias de Estado da Retomada; de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti); e de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad); Saneago; Universidade Estadual de Goiás (UEG), Instituto Federal de Goiás (IFG); Serviço Social do Comércio (Sesc) e Prefeitura da cidade de Goiás. Este ano o evento também tem como apoiadores a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Grupo Kelldrin e Saga BYD.