Artistas/Obras homenageadas

Ronaldo Fraga
Estilista, designer e contador de histórias bordadas com linha, tecido e memória. Nascido em Belo Horizonte, formou-se em estilismo pela UFMG e pós-graduou-se em moda na Parsons School, em Nova York, e na Central Saint Martins, em Londres. Desde o início de sua trajetória, sua marca se destaca por unir moda, cultura popular brasileira e ativismo poético.
Mais que roupas, Ronaldo cria narrativas vestíveis — coleções que homenageiam personagens esquecidos da história, celebram saberes artesanais e denunciam silêncios sociais. Já levou para as passarelas temas como a ditadura militar (“Quem matou Zuzu Angel?”), o sertão reinventado, o corpo trans e o amor sem armários.
Além de sua marca autoral, assina figurinos para teatro, cinema e ópera, e desenvolve projetos com comunidades artesãs pelo Brasil, costurando afetos entre o design e os fazeres ancestrais.
Em 2024, lançou o livro “Memórias de um estilista coração de galinha”, obra que mistura autobiografia, cartas, memórias de infância e reflexões sobre moda como gesto político e afetuoso — uma costura entre a palavra e o pano que veste a alma do Brasil.
Ronaldo Fraga foi o primeiro profissional da área de moda a ser agraciado com a comenda do mérito cultural pelo Ministério da Cultura.

Cris Miotto
Com 20 anos de carreira, tem sua trajetória marcada por projetos independentes, com destaque para os filmes “Comeback” e “Oeste Outra Vez” (ambos com direção de Érico Rassi), filmados no interior goiano e ambientados em cenários pouco vistos na cinematografia brasileira.
Ainda foi produtora executiva dos longas "Biônicos" (Netflix), "O Porão da Rua do Grito" (dir. Sabrina Greve) e “Resplendor” (dir. Claudia Nunes/Erico Rassi); da novela "Beleza Fatal" (HBO); e das séries de TV “Doçaria Brasileira” (CineBrasil TV) e “Giramundo” (TVs Comunitárias).
Como produtora delegada, trabalhou em "Só Se For Por Amor" (Netflix/Série). Na função de diretora de produção, liderou projetos como "A Vida Secreta dos Casais 2" (HBO/Série), "Nosso Corpo, Nosso Sangue" (Fox/Doc) e “A Ferida” (dir. Lucas Camargo/Nicolas Zetune). Ainda como platô, gerenciou “Cidade Pássaro” (dir. Mathias Mariani) e “Samantha” (Netflix/Série).
Seus projetos acumulam diversos prêmios, incluindo três Kikitos no Festival de Gramado 2024 (Melhor Filme, Fotografia e Ator Coadjuvante) para "Oeste Outra Vez", Prêmio Emmy Kids Factual 2020 para “Nosso Corpo, Nosso Sangue”, e Melhor Filme e Direção no Festin Lisboa 2016 para “Comeback”.

Selma Parreira
Artista visual, arte educadora pesquisadora. Trabalha com linguagens contemporâneas e investigações que perpassam pelo homem e seus objetos, espaços, tempo e memórias.
Mestra em Cultura Visual e Arte pela Faculdade de Artes Visuais da Universidade Federal de Goiás e lecionando nesta Instituição de 1993 a 2017. Licenciada em Desenho e Plástica pela UFG, e residência artística em Gravura pelo Instituto Allende – Guanajuato – México.
Trabalha com pintura desde os anos 80. Participou de vários salões, exposições coletivas e mostras individuais em várias capitais brasileiras e algumas no exterior com obras adquiridas por colecionadores de várias partes do mundo. Atualmente ministra palestras e realiza projetos curatoriais de arte contemporânea além de manter produção constante na área da pintura, fotografia e instalação.
Lençóis Esquecidos no Rio Vermelho
Intervenção urbana
Artista: Selma Parreira
Ano: 2009
Entre 2002 e 2009 a artista Selma Parreira trabalhou com propostas visuais que abordam o universo das lavadeiras de roupas, referindo-se à memória do corpo e do trabalho, à mitologia, ao gênero e a outras relações possíveis. Os objetos pertencentes a esse cotidiano estão presentes na obra Lençois esquecidos no Rio Vermelho e na elaboração de um repertório imaginário, conceitual, e que neste trabalho adquirem outros significados.
A obra foi escolhida para compor o cartaz da 26a edição do Fica - Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental, em 2025, não só pela importância do rio para os vilaboenses, mas também pela contribuição da artista para as artes visuais no estado de Goiás.
A obra é uma instalação efêmera que aconteceu por um período de doze horas em um espaço específico – um trecho de aproximadamente 500 metros do leito do Rio Vermelho. Atuando e interferindo em sua paisagem e se relacionando com a história do rio como lugar de manifestações sociais, trabalho e memória da Cidade de Goiás. Integrou o trabalho também uma videoarte.
Para realizar a obra a artista pesquisou fotos antigas que registraram as lavadeiras trabalhando em vários lugares do leito e das margens do rio. São registros do começo e meados do séc. XX, que pertencem a coleções particulares e aos acervos do Museu da Boa Morte, na Cidade de Goiás, e do Museu da Imagem e Som, em Goiânia.
Nas cenas registradas pelos fotógrafos Don Cândido Penso, Joaquim Craveiro, Alois Feichtenberger e outros não identificados, as mulheres estão lavando roupas no rio, sempre em grupo, e em torno delas, algumas crianças. As lavadeiras aparecem usando saias largas e compridas e o tradicional pano amarrado na cabeça. No registro em preto e branco, elas se misturam às pedras, à água e se integram aos elementos naturais da paisagem.
Os relatos saudosos das antigas lavadeiras são matéria primordial para a elaboração dos conceitos da obra. Neles estão registrados pela artista a simbiose harmoniosa e a cumplicidade entre o rio e essas mulheres.
Ouvir e decifrar o barulho das águas, sentir a força da correnteza, ficar atenta às mudanças – são os recados do rio. Observar o colorido das águas, a temperatura, saber das chuvas na nascente: o rio avisa sobre os perigos das enchentes, suas águas ficam avermelhadas e sujas. É hora de catar as coisas e correr pra casa.
Foi antes do nascer do sol de uma segunda-feira, dia de trabalho das antigas lavadeiras, que Selma colocou para “quarar”, próximo ao mercado municipal, no grande lajeado na margem do Rio Vermelho, vários lençois azulados, que cobriam quase toda a área da grande pedra.
“Um pouco mais adiante, próximo à ponte do Carmo – local impregnado de memória, por ser um dos mais preferidos pelas lavadeiras e muito registrado nas fotos antigas -, foram distribuídas vinte e cinco bacias grandes, de alumínio, algumas com lençois brancos de molho e outras cheias de água com anil. Estavam todas sobre uma ilha coberta de vegetação rasteira, bem verde, que o rio apresenta no seu leito antes das chuvas chegarem.
Grandes lençóis alvejados estavam estendidos em um varal e presos nas estruturas de madeira da ponte da Casa de Cora. O dia estava nascendo, o Rio Vermelho corria com águas muito claras e espelhava a cena, duplicando tudo, os lençois e o céu muito azul.”
Apropriando-se dos versos de Cora Coralina, do poema A Lavadeira, Selma define sua obra:
“Às lavadeiras do Rio Vermelho,
da minha terra
Faço deste pequeno poema
meu altar de ofertas.”